2.1.07

Ouvindo Izidro 040904

Poema não é pranto ou arma
ou fogo ou grito
Poema é algo na poesia
que sofregamente se faz
depuradoramente se entende
e germinalmente se sente

Façam seus poemas cotidianos
da matéria mais intensa
confia no papel, com ternura

A poesia é um tempo presente

Nenhum sorriso

Os versos que eu te fiz
Ah, os versos que eu te fiz
e tu não me deu nenhum

sorriso

Te falei da minha casa,
do lugar onde guardo meus chinelos,
do segredo na ração do meu cachorro
e tu nenhum sorriso me deu
falei do que tive e não tive,
sonho e busco
da coleção de camisetas velhas destruída
pela minha mãe
falei do por-do-sol que é mais tranquilo
se você viaja sob ele

falei tudo sem rima nenhuma, que isso
tanto faz
e você nenhum sorriso me deu

VA PRA PUTA QUE PARIU

Nada de Patrícia

Ah, nada de Patrícia
Patrícia foi embora
nada de conversa
nada de carícia
Patrícia foi embora,
e agora?

Aquela voz meiga,
aquele olhar maroto
(com um gato de malícia
escondido com o rabo de fora)
E agora?

Patrícia foi embora...

Deixou minha careca
sozinha, mas pelo menos
Patrícia gostou dela
um dia

Planos

Demora te encontrar
denovo
ver nos teus lábios o
ápice da minha agonia

Demora tua voz
aconchegar meus ouvidos
em agilidade

Demora saber que
teus olhos, que me olham
(nem tanto)...

Que tua pele,
teu calor
demoradamente se afastam

e eu, um pouco a contragosto
não faço muitos planos

VENTO II

Ouvidos sedentos de destino
mas a cidade fala toda implosão
torturados por
onibusmotosapitosvendedores
o ralo do rio leva
tudo
e
m
b
o
r
a
e tateio o vento

prédios ásperos de fuligem
ar pesado de umidade
ruídos cortando à facacega
qualquer desejo de miragem

O ralo do rio leva tudo embora
e tateio o vento