31.12.07

Merces

Maluca sem cabeça, na corda bamba da vida
se a conheceu, não há "esqueça";
pelo sentimento do mundo é movida

No meu mafuá é uma das poucas (e boas)
vale muito mais do que pesa;
reza, respira fundo e vai a luta

exemplo de muitos, Merces,
Nega Maluca

18.11.07

"Até onde a vista alcança" será lançado no Dia da Consciência Negra


Na próxima terça(20), dia da consciência negra, será lançado às 18h na Escola Municipal Manoel Bandeira da Comunidade Quilombola do Sambaquim e Riachão do Sambaquim, na zona rural de Panelas-PE, o documentário curta-metragem "Até onde a vista alcança", uma realização da Asterisco, dirigido e produzido por Felipe Peres Calheiros, patrocinado pelo Banco do Nordeste, através do Programa BNB de Cultura 2007 e co-produzido pela REC Produtores Associados. O filme também será reexibido na quarta-feira(21), no mesmo horário, na Escola Estadual Gregório Bezerra, na zona urbana daquele município.
A Comunidade Quilombola do Sambaquim e Riachão do Sambaquim localiza-se na zona rural do município pernambucano de Panelas, a 201 km do Recife. Descendentes de uma população negra originária do extinto quilombo de Palmares, as famílias do Sambaquim nunca tiveram o registro de suas terras, as quais foram tomadas por fazendeiros da região, que as "compraram" em cartórios, na primeira metade do século XX. Aqueles que resistiram ao êxodo e à falta de terra e renda, ainda hoje, guardam oralmente a história de luta de seu povo, dançando, cantando e improvisando Mazurcas e Cirandas, manifestações culturais características da localidade.
A realização do curta - Em 2005, a partir de uma reunião dos membros da Associação Quilombola do Sambaquim e Riachão do Sambaquim, surgiu a idéia de organizar um bingo, com o objetivo de arrecadar recursos para alugar um ônibus e levar pessoas de diversas idades que – apesar de morar a apenas 150 km da costa – ainda não conheciam o mar.
"Naquela época, eu era reconhecido como fotógrafo pelas comunidades quilombolas e, nesse sentido, me convidaram para fotografar aquela história. Foi então que lhes respondi: mas isso não é uma cobertura fotográfica, isso é um filme!", diz Felipe.
Com uma equipe voluntária e recursos próprios, realizou-se toda a etapa de produção, cobrindo o bingo, gravando cenas da cultura e do cotidiano da comunidade, e entrevistando pessoas sobre a possibilidade de conhecer o mar. Nascia então o documentário "Até onde a vista alcança".
Finalmente, em 13/05/2006 (coincidência ou não: o dia de aniversário da abolição), com os recursos arrecadados no bingo e alguma ajuda da prefeitura local, um ônibus levou 46 pessoas da Comunidade Quilombola à praia de Barra Grande, em Alagoas, para encontrarem pela primeira vez o oceano.
"Nesses meses entre o bingo e a realização da viagem, percebemos que se tratava de um filme sobre algo comum a todos nós, a realização de um sonho. E a linguagem que utilizaríamos no instante da concretização de um sonho tão nobre como aquele não poderia simplesmente registrar o real, precisava transmitir o sonho ao espectador. Foi daí que surgiu a idéia da fotografia preto e branco em película".
O próprio diretor Felipe Peres Calheiros e Mateus Sá (Canal 03) fotografaram em preto e branco toda a viagem entre Panelas e Barra Grande, e o extasiante encontro com o mar. As fotografias contrastam com a imagem em vídeo digital, e oferecem ao espectador a passagem a um outro mundo em duas cores, um mundo de sonho, do sonho de quem esteve no oceano pela primeira vez.
A pós-produção do curta – Selecionado pelo Programa BNB de Cultura 2007, o documentário recebeu recursos para sua edição e finalização, realizada entre março e novembro de 2007, com o apoio da equipe da REC produtores associados e dos Estúdios Mombitaba do Brasil.
A montagem do filme, realizada por Paulo Sano e Rafael Travassos, foge ao padrão de uma construção mais tradicional e cronológica dos fatos. O filme se desenvolve entrecortado por projeções fotográficas em preto e branco de fotos tiradas dentro do ônibus durante a viagem, que quebram o ritmo da narrativa, de forma a sugerir ao espectador a idéia de uma viagem que só se revelará por completo no fim do curta-metragem.
O documentário conta com legendas para 3 línguas e pretende circular em Festivais Nacionais e Internacionais de Cinema. Será lançado em Recife apenas em 2008.
"Até Onde a Vista Alcança" é assinado pela Asterisco, um coletivo formado por Evandro Dunoyer, Felipe Peres Calheiros, Paulo Sano, Rafael Travasssos e Sérgio Santos, que se conheceram no Curso de Comunicação - Radialismo e TV da UFPE, e desde 2006 produzem audiovisual juntos.
Sobre as Comunidades Quilombolas
Comunidades Quilombolas são grupos sociais rurais e urbanos formados em parte ou totalmente por descendentes de negros que escaparam da escravidão, para viver e resistir unidos, desde os tempos do Brasil Colônia. Existem hoje 1.137 comunidades dessa natureza reconhecidas governo brasileiro. Quase a totalidade delas localiza-se distante da vida urbana, em situação de extrema miséria e deficiência alimentar, sem terras para produzir, subempregadas e discriminadas pelas classes dominantes.
Mais Informações: Felipe Calheiros, (81)9959-8066

15.11.07


Crepúsculo

Aquela música sempre lhe enxertou lágrimas nos olhos. O clima de fim de tarde avassalador reduzindo-o ao paradoxo da existência: ser social e ser só. Como tudo aquilo surgiria de um encadeamento de acordes e vozes? Questão nebulosa e por isso, perturbadora. Debruça-se no parapeito, a melancolia toma de assalto sua capacidade de controlar coisas mínimas, como o próprio pulso, por exemplo. Deita-se. A aflição que a demora do crepúsculo gera em seu peito não permite que se demore na cama. A música não acaba. O dia não acaba. Já duvida se a consciência resistirá. Tenta controlar a respiração. Nada pode fazer. Se pelo menos essa música saísse de sua cabeça! Nada pode fazer. Enfim, como que cansado de fazer sofrer a pobre alma, o sol se deita no horizonte. Da mesma forma inesperada como chegou, foi embora a música. Ele pegou um copo d água, sentou-se sob a janela e fechou os olhos.


11.11.07

Equívoco

 
Há muitos anos era assim: três vezes por semana a angústia unia nossas sôfregas existências num desejo terrivelmente sincero de, passada a hora da tortura, poder voltar às benesses do cativeiro silencioso que era nossa casa.
Em tempos passados, a falta de compromissos e a possibilidade de perambular pela cidade atenuava e até anulava os efeitos das intermináveis aulas de violino de mamãe. Não que eu visse qualquer coisa de errado nas predileções artísticas de minha genitora, mas a sua incapacidade de reconhecer a inexistência de qualquer talento para a música dentro de seu ser, mesmo com a completa falta de elogios e, às vezes, até de polidez por parte de algum vizinho ou parente e até mesmo da professora alemã, é digna de primeiro prêmio em qualquer concurso que premie a determinação por si só.
Contudo, minha entrada na faculdade uniu de forma trágica meu destino àquelas notas desafinadas. O curso de engenharia consumia a totalidade do meu tempo. Uma cadeira, uma mesa, os livros, papel A4 e uma caneta: era o que eu precisava para viver, e parecia que poderia ser assim para sempre. Se estruturas ou abstrações teóricas não importa, bastava que eu estivesse ali, calculando, mergulhado naquele universo azul e branco. Toda essa tranqüilidade era a rotina, é verdade. Mas a exceção, como será mostrado, dominou de modo brutal os rumos dessa história.
Fatídica semana aquela que uniu a prova de Probabilidade e Estatística na Aplicação do Cálculo Multivariável e os inesgotáveis esforços da professora alemã em desenvolver (?) os talentos de uma violinista determinada. Naquele fim de tarde quente de janeiro, após um semestre espremido por causa da greve no fim do ano, estava eu regendo equações e algarismos com maestria digna de um regente de filarmônica quando, súbito, o violino começa a arranhar meus ouvidos, primeiro intercalando espaços suficientes para um suspiro de alívio, depois como uma metralhadora impiedosa. O desespero se apoderou do meu ser. Foi como se no ápice da minha grande ópera os músicos se levantassem e, sem olhar para trás, abandonassem o teatro em fila indiana. Todas as fórmulas, todos os conceitos pareciam ter sumido para sempre naquele exato momento. Enfim, os arpejos de mamãe me levaram ao suicídio e à necessidade existencial desse desabafo psicografado. Passado o calor do momento vejo quão equivocada foi a decisão. Seria capaz de responder a prova agora, se fosse possível.

6.7.07

rotativa

http://www.rotativa.blogspot.com/

18.4.07

Bicicleta

Tuas linhas retas
que deslizam sobre a terra
percorrem vastas distâncias
como se fossem pruma guerra

Guerra contra limites, que pacifica o guerreiro
Luta vã: que os desafios morrem
e renascem a cada instante

Na frieza do metal de sua estrutura,
andaime de sonhos,
corre a quintura
do sangue de quem
corre a cada dia
em busca de si mesmo

que é a busca mais difícil.