15.11.07


Crepúsculo

Aquela música sempre lhe enxertou lágrimas nos olhos. O clima de fim de tarde avassalador reduzindo-o ao paradoxo da existência: ser social e ser só. Como tudo aquilo surgiria de um encadeamento de acordes e vozes? Questão nebulosa e por isso, perturbadora. Debruça-se no parapeito, a melancolia toma de assalto sua capacidade de controlar coisas mínimas, como o próprio pulso, por exemplo. Deita-se. A aflição que a demora do crepúsculo gera em seu peito não permite que se demore na cama. A música não acaba. O dia não acaba. Já duvida se a consciência resistirá. Tenta controlar a respiração. Nada pode fazer. Se pelo menos essa música saísse de sua cabeça! Nada pode fazer. Enfim, como que cansado de fazer sofrer a pobre alma, o sol se deita no horizonte. Da mesma forma inesperada como chegou, foi embora a música. Ele pegou um copo d água, sentou-se sob a janela e fechou os olhos.


No comments: